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quinta-feira, 30 de julho de 2009

Patativa, Paulo Freire e a Cia. do Tijolo

Patativa, Paulo Freire, e a Cia. do Tijolo
Por Rodrigo Mercadante

A idéia de fundar a Cia. do Tijolo surgiu do desejo de Dinho Lima Flor de criar um trabalho sobre a vida e a obra do poeta Patativa do Assaré. Juntamo-nos a ele Fabiana Barbosa e eu. De um primeiro contato com os poemas nasceu o show “Cante Lá que eu Canto Cá”, uma espécie de sarau literário e musical. Mas não foi o bastante. Na medida em que nos aprofundávamos no universo do poeta, percebíamos que o show não era o suficiente para abarcar a complexidade da obra e, principalmente, não revelava ao público a singularidade da trajetória de vida desse agricultor, poeta e cantador.


Qual seria a melhor forma de levar Patativa aos palcos? Era preciso que se encontrasse um ponto de vista, um ponto de partida, para podermos LER Patativa e encará-lo sem nos perdermos na infinidade de assuntos dos quais ele trata ou sem cairmos na tentação de simplesmente dramatizar sua biografia.


A luz veio numa conversa entre mim, o diretor Ilo Krugli e a educadora Rita Rozeno em Theotônio Villela, cidade com um baixíssimo índice de desenvolvimento humano localizada no interior de Alagoas. Conversávamos sobre o fato de o Brasil possuir um dos maiores índices de analfabetismo funcional do mundo e nos assombrávamos com a contradição de que isso acontece no país onde o grande educador Paulo Freire desenvolveu sua pedagogia do oprimido.

A conexão se fez imediatamente em minha cabeça. Patativa foi um homem que estudou só seis meses e desenvolveu extraordinariamente em si as possibilidades poéticas, práticas, reflexivas no manejo da língua. Qual caminho percorreu Antônio Gonçalves da Silva até alçar vôo e chegar à Patativa? Talvez as concepções de Paulo Freire sobre o conhecimento e sobre o ser humano nos desse um norte para a leitura e para a análise da obra do mestre cearense.


E é aí que se explica o nome da Cia. do Tijolo. O primeiro passo no processo de alfabetização do método criado por Paulo Freire é o levantamento do universo vocabular dos grupos com que se trabalha; são palavras ligadas às experiências existenciais, profissionais e políticas dos participantes dos diferentes grupos. Foi assim que em Brasília, cidade ainda em construção nos anos 60, surgiu entre os estudantes de Paulo Freire a palavra TIJOLO.


Para essa empreitada, a aventura de criar um trabalho em conjunto, vieram Rogério Tarifa, Karen Menatti, Aloísio Oliver, Maurício Damasceno, Jonathan Silva e Thais Pimpão. Com eles, as histórias pessoais e profissionais de cada um. Vieram as experiências com Ventoforte, Casa Laboratório e Cia. São Jorge. Vieram Tacaimbó, Belo Horizonte, Maringá, Vitória e São Paulo. E hoje vivemos a aventura de construir o que é a Cia. do Tijolo. Por enquanto, somos um recém nascido que tateia e deseja. TIJOLO é nossa ‘palavra geradora’, nosso princípio de orientação na construção deste “Concerto de Ispinho e Fulô”.